segunda-feira, 7 de junho de 2010
A Joaninha
Estava a Joaninha
Sua casinha limpar
De chegar acabadinha
Da Covilhã a voar.
Regressou a sua casa
Depois de muito pensar
"Está na hora de partir
Está na hora de pousar."
Limpava esta asseada
Com rigor e precisão
Quando viu algo brilhar:
"-Um diamante pelo chão!"
Mas que sorte encadeada
Mas que brilho no olhar
Disse ela fascinada:
"-É desta que vou casar!"
Foi ao fórum, comprou roupa
Sabonete e perfume
Sapatinhos de costura
Ficou toda num aprume!
Que beldade, que encanto
E com magia a acompanhar
Olhou a vida com espanto
Com um brilho no olhar!
Mal chegou a sua casa
Foi-se logo enfeitar;
Depressa abriu a janela
Quando viu alguém passar.
Um galinho na ruela
Tão bonito de encantar
"Será que abre muito a goela?"
Pôs-se logo a pensar.
"Mas vida é mesmo assim
Não há nada que enganar,
Ele vai gostar de mim
E comigo vai casar!"
Sem perder voz de virtude
Logo foi apregoar
Os valores da juventude
Ela os disse a cantar:
“Perfumada e asseadinha
Quem me poderá olhar
Elegante e arranjadinha
Procuro alguém para casar”
Responde o galo embaraçado
Erguendo o bico à janela
De fatinho e emproado
E rosa branca na lapela:
“- Não sou dono de ninguém
Nem me vou apaixonar
Mas podes vir tu também
Com as galinhas morar!”
Indignada e assustada
De viver no galinheiro
Responde logo magoada
“Que nem por muito dinheiro!”
O galão foi-se afastando
No seu ar encantador
“- As galinhas vou galando
Tu deves ir é ao doutor!”
Mas Joaninha ao ver passar
Um coelhinho todo branco
Pôs-se logo a magicar
Uma frase com encanto:
“Eu sou a dona Joaninha
E não quero galinheiro
Sou meiga e delgadinha
E já tenho um mealheiro”
O coelho de lacinho
Jeitosinho e aprumado:
“- Mas eu sou um coelhinho
Vens viver para o meu prado?”
“- O que comes tu coelho,
As mais tenrinhas cenouras?”
“- Se voares para todo o lado
Vais colhendo das mais louras!”
“- Louro é aquele milho
E quem o come é a galinha!”
Retirou-se o coelho com estilo:
“- Ainda vais ficar sozinha!”
Mas eis que vê com regalo
Ao longe a se aproximar
Um bonito e grande cavalo
P´ra quem se pôs a cantar:
“Perfumada e asseadinha
Quem me poderá olhar
Elegante e arranjadinha
Procuro alguém para casar”
“- Eu cá sou aventureiro
Gosto muito de andar,
Posso ser teu companheiro
Se ervas me quiseres dar!”
“-Tu tens cá um vocábulo
Que mereces da cascalha
Espalhada pelo estábulo
Erva seca como a palha!”
“- Pois, eu não sou casmurro
Fico à sombra do limoeiro.
Vai pedir ajuda ao burro
E viverás no seu palheiro.”
“- Com o burro nada quero
Nem o porco desordeiro!
Por este andar já desespero
Talvez passe um forasteiro”
O burro fez orelhas moucas:
“-Não sou nenhum casamenteiro!”
O porco disse-lhe das boas
“-Gosto mais do meu chiqueiro!”
Já quase pela noitinha
Viu passar ali um gato
Apressou-se a Joaninha
A segui-lo até ao mato:
“- Por onde vais trovador
Nestas noites de luar
Serás tu o meu amor
Queres comigo casar?”
“- Eu sou um felino preto
Estou à espera do lobo e do sapo
Queres juntar-te a um dueto
Na caçada pelo rato?”
“- Mais pareces um Lobato
Empertigado em desfilar!
E nessas noites pelo mato
Cantarolando a namoriscar…”
“-Desdenhas da nossa companhia?”
Pergunta o lobo quase a uivar.
“-Tu vais ficar mas é para tia”
Disse o gato a ronronar.
Pela noite já escura
Voou à sua casinha!
“-Acabou-se a aventura!”
Disse a dona Joaninha.
Carla Bordalo
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário